A caixa já virou paisagem, empoeirada em cima da mesa de trabalho. Nela moram objetos, fotos, cadernos e papéis reaproveitados com ideias rabiscadas que não vêm à luz há quatro meses.
Escrever um livro vai além de sentar e preencher uma página em branco, oro em auto-indulgência.
Acreditei que hoje teria uma primeira versão do romance pronta e não estou nem perto disso. Esta newsletter, publicações no Instagram, oficinas, cursos, bate-papos com outras escritoras, ir à Flip pela primeira vez. Tudo o que faço é para me convencer de que estou construindo esse livro, embora não esteja escrevendo.
Desidratada de ideias, também recuei na ousadia de enviar minhas caraminholas direto para a sua caixa de entrada. Essa confissão mesmo só surgiu depois de três tentativas frustradas de engatar no texto.
Até perdi o timing de falar do meu batismo na Feira Literária Internacional de Paraty! Ainda bem que lá conheci Davi e sua dengoletter e confiei a ele a missão de te contar como foi aqui.
Será estresse pós-traumático? Acúmulo de lutos? Ressaca da euforia em viver a vida pós-tetra-vacinação? Também, também e também. A sutil diferença é que diminuí o tom de reclamação e fiz a galinha insegura:
Perceber e nomear a aridez criativa sem tatuar uma preocupação no peito é um bem-vindo alívio. Afinal de contas, em vinte-vinte-e-doido botei três contos1 no mundo. Nada fazer para ressetar a prosa é também um jeito de honrar esses primeiros marcos de pertencimento à comunidade daqueles que escrevem.
A literatura é uma conversa da qual quero fazer cada vez mais parte e a sua leitura atenciosa e fiel ao longo deste ano foi fundamental para mim. Muito, mas muito obrigada.
Falo contigo ano que vem. Aproveite para fazer vários nadas também.
Foto de capa: N I F T Y A R T ✍🏻 | Unsplash
Encontro serpentino (Revista O'Cyano, p. 46)
Edifício Sussekind (coletânea Pátria Armada)
Rotina matinal (Prêmio Selo Off Flip 2022)
"A literatura é uma conversa da qual quero fazer cada vez mais parte"! Que boa surpresa cair nessas gavetas.