Fiz de tudo nas últimas semanas, menos escrever. Até perdi o medo de andar de avião, mas sentar e rascunhar algo? Neca de pitibiriba. Cheguei a contratar a Laura para ter alguém oficialmente esperando meus textos. Não adiantou.
O que está por trás da dificuldade de estabelecer uma rotina de escrita?
Suspeitava que era a vontade de parir o texto pronto sem viver o processo oscilante de criação, mas descartei essa hipótese. Falta de tempo? Mentira. Escassez de ideias? Muito pelo contrário.
Para que este recado não pareça apenas uma viagem de ácido, resgato a ideia da curtadoria: aquela curadoria curta para eu não deixar de falar com você todo mês se não escrever nada digno da sua atenção.
📚 O mundo desdobrável
“A literatura salva, dizem. Eu tendo a concordar, não sempre, não o tempo todo, mas pode salvar. Salva porque nos permite criar, através da ficção, uma origem e um futuro. Tudo é palavra, tudo é ficção, inclusive a memória — aquilo que imaginamos ser nós mesmos. A ficção é a escrita do inconsciente, pode nos dar um passado, e pode também nos dar um futuro e um presente por onde caminhar.”
Acompanho os fios de pensamento de Carola Saavedra nesse livro de ensaios e aquieto-me: o pouco desejo de escrever deve fazer parte desse caminho desenrolado pelo meu inconsciente em palavras. Aquela pausa embaixo da sombra para recarregar as energias, talvez?
🎧 Os onzes
Lendo a Taís falar sobre ser algo além de filha, lembrei desse episódio em que a Bianca Tavolari contou com a intermediação da Rádio Novelo para escavar o passado de seu pai e avô, envolvidos num dos maiores terremotos políticos do século XX. Difícil não se emocionar.
🎧 Controle, desejo e autoconhecimento
Ouvi duas vezes esse episódio do podcast Para dar nome às coisas, pausando para tomar notas e digerir (obrigada, Luka, pela indicação).
Por que o seu desejo é controlar o meu desejo, e não realizar o seu desejo? Em vez de controlar o meu desejo, por que você não realiza o seu? Por que você não assume o seu desejo?
Foi com esse combo de perguntas que tentei juntar lé com cré para escrever este recado e concluir que talvez, por ora, eu não queira escrever.
É uma questão de desejo: onde ele está presente e onde ele está em falta.
Para alguém que viveu tantos anos com o desejo recalcado e restrito a esferas produtivas da vida, assumir vontades improdutivas e deslocadas da racionalidade pura e simples tem sido ma-ra-vi-lho-so, mas demandado muita energia e tempo. Pudera! Mal tenho forças para escrever um parágrafo sequer.
Esta newsletter é o projeto de escrita recorrente que mantenho por mais tempo. Bato ponto aqui para não abandonar o sonho da escrita própria. Seguimos.