O bagulho é movimento, caminhar.
Ouvi esse bocado de sabedoria de Mateus Professor, sambista e amigo com quem aprendo um tanto, dias após Exu vencer na Sapucaí.
Por meio de muita escuta-leitura de quem é da curimba, tenho aprendido que Exu é essência cri-ativa, criar + ação, o próprio movimento. Como ensinam Simas e Rufino, “Exu é o princípio dinâmico fundamental a todo e qualquer ato criativo”.
O movimento pressupõe mudança, interromper a paralisia. É seguir o fluxo, confiando; o tal do andar com fé eu vou que a fé não costuma faiá que nosso orixá vivo entoa.
Não é de se espantar o impacto que a reclusão do primeiro biênio pandêmico causou: impotência, inércia, congelamento, não-tempo, não-movimento. Nesse período, até quem se intitula caseiro e antissocial percebeu-se ser movente e, portanto, vivente.
Mover-se, mudar e a extensão da sensação de viver
Estamos aqui na Terra por um período finito de tempo. O tempo é uma percepção humana. Nós sentimos e entendemos o tempo passar com as mudanças — as estações, o envelhecer, coisas desse tipo. Logo, para estender nosso tempo neste mundo, temos que promover o máximo de mudanças na nossa vida o quanto for possível.1
Li esse depoimento na página do Facebook do Humans of New York há dez anos e ele ainda faz algum sentido para mim, recém-consciente dos atravessamentos encruzilhados.
De todas as mudanças para as quais me lancei e/ou me deixei atravessar, de longe, a mais profunda e pela qual sou mais grata, foi a mudança de mentalidade, de ideologia, de registro de como viver. Uma mudança que segue em curso, sempre incompleta, aberta a mais movimento.
O que saiu da minha gaveta
Lancei oficialmente o conto Encontro serpentino na Revista O’Cyano. Que delícia poder falar de literatura para além das telas, entre uma cerveja e outra, com gente conhecida e desconhecida. Não nego que gosto de ser escritora também por isso, por esses encontros com comes e bebes.
Se você ainda não leu o conto, clica no botão abaixo e se joga! Ele começa na página 46, depois de uma sequência espetacular de fotos da @afotogracria.
Se você está no Rio ou em São Paulo e quer ler o conto no formato físico, deixo aqui os endereços dos pontos de distribuição gratuita da revista:
Rato Branko: Rua Joaquim Silva, 71 - Lapa (Rio de Janeiro)
Casa da Escada Colorida: Escadaria Selarón, 18 - Lapa (Rio de Janeiro)
Galeria Refresco: Rua Sara, 18 - Santo Cristo (Rio de Janeiro)
Retropy: Rua Sorocaba, 416c - Botafogo (Rio de Janeiro)
Arp Bar: Rua Francisco Otaviano, 177 - Arpoador (Rio de Janeiro)
Casa Diária: Rua Arthur de Azevedo, 1315 - Pinheiros (São Paulo)
Psiu! Se pegar sua revista em um dos pontos, tira foto e me marca no Instagram? Vou adorar saber por onde meu conto está voando.
Alguns rabiscos também saíram da gaveta e foram parar direto na “mesa de cirurgia” da oficina da Anita Deak sobre recursos literários na construção da narrativa. Experiência intensa e de duplo esforço: concluir as propostas do curso e driblar a autossabotagem.
A experiência da oficina está sendo um verdadeiro divisor de águas na minha prática de escrita. Para complementar as aulas, comecei a ouvir o Litterae, podcast que a Anita tem junto do escritor e professor de literatura Paulo Salvetti.
Minha recomendação é começar pelo episódio sobre expectativas da carreira de escritor e depois ouvir em modo aleatório, escolhendo os temas que forem mais interessantes para você.
No momento, pausei esse episódio para tentar digerir a pergunta Só é possível ser escritor quando você já é bom? — a bicha alugou um triplex na minha cabeça! Mês que vem volto aqui com alguma resposta (ou não, rs).
📚 Se eu fosse você, lia
O trio aqui embaixo é imbatível, fora da curva do status quo, três brechas imprescindíveis que inspiraram a reflexão inicial desse recadinho — que foi breve porque ainda me sinto uma neném para divagar com mais propriedade sobre. Portanto, tá dada a bibliografia! 👇🏻
Psiu! Outra fonte boa são as aulas que o professor Simas dá no Bar Madrid. Se estiver pelo Rio, fique de olho no Instagram dele, sempre rola aviso de quando vai ter aula com uma certa antecedência.
🎧 Se eu fosse você, ouvia
Não podia fechar o recadinho do mês sem recomendar: ouça o bate-papo do Mano Brown com a Sueli Carneiro, uma das maiores intelectuais do país e referência histórica do movimento social negro brasileiro.
Eu estou nocauteada e vou ouvir mais uma vez, com caderno em mãos para escrever e absorver melhor. Em tempo, a Karina Vieira fez um fio com trechos do papo que são tão, tão certeiros… 👇🏻
Um pé após o outro
Acreditar na potência do movimento, exusíaca em essência, escancarou dentro de mim um espaço livre de culpa e generoso para a experimentação, para o erro e para a celebração do acerto, em todos as esferas interligadas da vida. E foi ouvindo Gil semana passada, no Roda Viva, que a ficha caiu: virar essa chave reajustou minha relação com a fé.
Tamanha sorte ser desaprendiz do modo #1 e aprendiz do modo #2. Sorte não, porque nunca foi sorte.
Falo contigo mês que vem, tá bom?
Um beijo,
Tradução livre de depoimento disponível no site Humans of New York